a menina do bloco

5/07/2007

[do silêncio das coisas]

Não falo tudo o que penso. Calo-me e penso. Calada. Alada.
Faladas as palavras se perdem, caladas não servem pra nada. Prefiro. Também o amor não serve pra nada. No entanto, permanece calado. Acalenta os corações pelo silêncio que compõe. Cantado não é amor, mas expressão, dor-de-cotovelo, ou paixão. Calo-me e preservo não a mim, mas às palavras. Também uma árvore se cala para preservar seus frutos. Também os profetas se calam para preservar a fé. Também um livro se cala para preservar a dor.
O silêncio não fala mais que mil palavras. O silêncio se cala; para preservar a fala. E nem todas as palavras se perdem.
Compartilhar é poder calar-se diante do inevitável, do óbvio ou do inesperado, diante do desejado ou do indesejado.
Fosse eu um pescador, o mar seria meu lar, seu silêncio, minha expressão, e seu barulho seria o meu protesto. Mas como não sei pescar, meu mar é o mar morto, onde bóiam densos meus leves pensamentos, no silêncio inevitável da natureza incompreendida.

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