a menina do bloco

5/30/2007

[pecados capitais]

cobiça

A minha pretensão
Se perde
No seu egoísmo

A sua aparição
Desperta
O meu hedonismo

5/24/2007

[nem deveria]

Não te amo
Porque seria demais
E porque não me deste tempo.
Mas, principalmente, porque sei que não posso,
Não devo.

Não te amo
Porque não faria sentido
E porque eu sequer poderia gostar de você
Apenas te lembro.
E em tão poucas lembranças que até considero
o que não seja tão real assim.
Te lembro de tão poucas vezes
mas com todos os sentidos
e algumas sensações.

Não te amo
Porque o seu silêncio não quis.
Embora antes, ele mesmo me tivesse dito tanta coisa...
(ou fora eu quem ouviu demais?)

Não te amo
Porque sou tão ou mais covarde que você
Embora às vezes essa sua covardia seja apenas
um total ideal.

Não te amo
Não porque somos assim tão diferentes,
mas porque somos assim tão distantes.

Não te amo
E não sei se por causa do meu medo
ou da sua coragem

Não te amo
porque não era hora,
não a sua hora
ou porque já era tarde
no fundo eu sei que houve uma demora.

Não te amo,
mas quase amaria.

Não te amo,
Mas bem que queria um beijo!

Esporte

Tô muito poeta,
um tanto pateta.
mas não é essa a meta
do atleta poeta?

5/23/2007

inverno

Verônica sabia dos perigos e por isso hesitou.
Olhou pela janela, mas o medo de cair não a permitiu ver todo o necessário.
Recuou. O parapeito lhe dava vertigem.
Sentiu o frio forte que entrava pela janela
embora o sol lá fora lhe parecesse tão quente.
Pegou o casaco mas não vestiu.
Casaco na mão, enfrentou o frio com a coragem de
quem desliga o telefone ao ouvir a voz amada na linha,
como quem sonha acordada para não esquecer.
E ali, queimou-se com o frio como sempre, ali dançou coreografias ensaiadas e recitou os versos que decorara na infância.
Seus sonhos já não eram os mesmos, mas o frio sim. Os olhos também, o cabelo, o corpo e o coração...ah esse era mesmo o mesmo.
Sonhou com o improvável e sentiu o frio quente. Era noite e o sol já havia se posto. Ela ainda na janela, longe do parapeito, claro, olhava o horizonte que não se mostrava, mas que se sabia existente.
Prendeu a respiração até quanto fosse possível, ela queria se testar. Sem fôlego, caiu no chão e bebeu uma cerveja, duas, três, quatro, e perdeu as contas.
Nada mais parecia ser o mesmo e ela se sentia outra. Mas o frio, que ela tanto amava, continuava ali, e ele não estava embriagado, o que ela sentia era seu próprio hálito, o mesmo dos dias outrora desiguais.
E ela então se permitiu lembrar: a mesma embriagues, hálitos embriagados de dias outros que não esses. Dias quentes, embora não tórridos.
E da lembrança sentiu-se plena, plenamente vazia.
Adormeceu e ao amanhecer já não fazia mais frio.
Mas o sol também já não parecia o mesmo.

[eu]

Eu sou a menina do bloco
que vive no mundo da lua.
(é que a realidade por lá
é toda poesia)

5/22/2007

atendendo a pedidos

de hoje em diante:
darei as caras!,

vou dar a cara a tapa e abrir mão de dar as cartas
passo a deixar que falem mal, desde que falem de mim
e que falem bem sem olhar a quem
de presente, só darei alfinetes a partir de agora
e ai de quem espetar o próprio dedo...

5/16/2007

[do sentimento de hoje]

Hoje não vou escrever.
Vou deixar de ser
Sambar calada pra tentar me ouvir
Se as lágrimas caírem, farão parte do samba
que deixará de ser.
e o chorinho que então escutarei
não será doce
nem suas notas, alegres
pra não ter que deixar de ser,
sua sólida tristeza secará as gotas e rolarão vidros
cortando a garganta
para o pranto
ter enfim razão de ser.

5/15/2007

poesia:

Momentos etéreos
De prazer a conta-gotas:
Cada palavra,
Um gozo.

5/14/2007

porque é amargo, por mais açúcar que tenha...

Um aviso aos que esperam algo de mim: eu nunca vou gostar de café.
Pode até parecer pirraça, mas não é. Pelo menos não contra o café.
Eu simplesmente não quero ser feliz assim. Quero poder tomar suco de maracujá ou chá de camomila e ainda assim me sentir viva. E saber que horas são apenas uma forma de medir o tempo, não um alerta constante pautando minha vida.
Eu não quero ser feliz sendo apenas uma assinatura. E nem me contentar com os olhares dos outros. Quero poder olhar também, quero viver o meu tempo, como sempre, mesmo que ele pareça tardio para alguns.
Quero dormir e sonhar. E dar espaço ao surreal nos meus sonhos e até na minha vida. E não ser feliz resolvendo problemas inventados.
Quanto à verdade? Não! Eu não quero ser feliz sendo a portadora da verdade e muito menos achando que isso é possível.
Não quero ser feliz fazendo os outros acreditarem em mim enquanto engano a mim mesma com essa história de realização.
E eu não quero ser a melhor para ser feliz. Também não desejo exibir troféus pelas minhas muitas horas de auto-flagelação.
Eu não quero ser feliz correndo. Quero que essa tal de felicidade venha devagar como na cartinha que escrevi para a vovó há muitos anos e que ninguém entendeu. Mas que hoje faz todo sentido. Devagar e demorada, assim eu quero essa dona felicidade.
Quero ser feliz conversando sobre tudo, e dividindo experiências. E que se for pra escolher um assunto preferido, que esse assunto não gire em torno de mim.
Também quero ser feliz sabendo escutar mais do que falar.
Sentada à mesa, quero ser feliz podendo escolher e sentir,e, se for o caso, poder contar até 33.
Não quero ser feliz assim: vendo a felicidade passar ao meu lado.
Eu quero ser feliz perdendo tempo!
Não quero ser feliz assim nem quando essa parecer a única forma, muito menos tão precocemente.
Não quero ser feliz assim e achar que sou feliz assim: tomando café.

descoberta maquiavélica

esses nossos inúmeros pequenos fins
não nos fazem atingir um meio
de sermos mais felizes!
tampouco justificam a falta de um ponto final

5/09/2007

A estampa da minha vó
não estampa na boutique
nem na saia de filó
nem na moça da vitrine
nem nos seus olhos de dó
é uma estampa muito fina
que destampa...
e só.

5/08/2007

a felicidade

Tá tudo tão certo que às vezes da uma vontade louca de entortar um pouquinho.
Não pra ficar pior ou diferente, só pra sentir mais. Sentir a rua torta indo, sentir o sorriso torto e não menos sorriso.
Parecer sensitiva, passar por sensível ou dar uma de sentida pra não ter que mostrar o que se sente e ver tudo entortando devagar.
Entortar aquela voz pra que ela ecoe quando não estiver por perto e o olhar pra seguir a beleza lá longe.
Dormir meio torta na cama pra sonhar com as estrelas caindo.
Escrever torto em linhas certas pra ver se o escrito fica menos piegas.
E tortamente desentortar tudo de novo torcendo pra que tudo volte a sentir certo novamente, até bater a mesma vontade torta nessa cabeça incerta, e tudo parecer mais reto do que deveria...

5/07/2007

[do silêncio das coisas]

Não falo tudo o que penso. Calo-me e penso. Calada. Alada.
Faladas as palavras se perdem, caladas não servem pra nada. Prefiro. Também o amor não serve pra nada. No entanto, permanece calado. Acalenta os corações pelo silêncio que compõe. Cantado não é amor, mas expressão, dor-de-cotovelo, ou paixão. Calo-me e preservo não a mim, mas às palavras. Também uma árvore se cala para preservar seus frutos. Também os profetas se calam para preservar a fé. Também um livro se cala para preservar a dor.
O silêncio não fala mais que mil palavras. O silêncio se cala; para preservar a fala. E nem todas as palavras se perdem.
Compartilhar é poder calar-se diante do inevitável, do óbvio ou do inesperado, diante do desejado ou do indesejado.
Fosse eu um pescador, o mar seria meu lar, seu silêncio, minha expressão, e seu barulho seria o meu protesto. Mas como não sei pescar, meu mar é o mar morto, onde bóiam densos meus leves pensamentos, no silêncio inevitável da natureza incompreendida.

[da época de ouro]

A tecnologia é mesmo uma coisa incrível:
eu espirro aqui
você me diz saúde daí:
do outro lado do mundo.
Atchim! viver sem fronteiras...